Ao vivo
Blogs

O Maracanã não merecia comemorar 70 anos assim...

As prioridades para os políticos estão aí. As prioridades para os dirigentes do futebol estão aí. Eles só poderiam buscar o que de verdade lhe importam sem usar o Maracanã, repito, palco de um hospital de campanha para salvar pessoas, como pano de fundo para isso

Uns lutando por três pontos, outros lutando pela vida

As minhas maiores alegrias com o futebol e algumas grandes tristezas eu vivi dentro do Maracanã. Tirando as casas onde morei, é o lugar em que eu mais fui feliz. Em que vi um jogo de futebol no estádio pela primeira vez, que me apaixonei por esse esporte que alterou a minha vida. Houve uma época em minha vida que eu ia ao Maracanã praticamente todos os dois da semana, ver qualquer jogo. Depois passei a trabalhar no estádio, que passou por várias modificações, mas sempre continuou sendo o Maraca. Nesta terça, 16 de junho, em que o “Maior do Mundo” completa 70 anos, o presente é um show de insensibilidade e falta de apreço à vida.

Na calada da noite, os homens que dirigem o futebol carioca (menos os de Fluminense e do Botafogo) deram de presente ao Maracanã a provável retomada do Campeonato Carioca daqui a dois dias, em meio a uma pandemia que vem matando centenas de brasileiros a cada dia. Em um momento em que não há nenhuma certeza de que o cenário está seguro para investir esforços para retornar a prática do futebol, enquanto dentro do mesmo muro do Maracanã há um hospital de campanha em que médicos se esforçam para evitar que pessoas morram sem conseguir respirar. Em meio a uma população reconhecidamente muito menos testada para Coronavírus do que deveria. O Maraca não merecia ser “presenteado” assim.

Ao longo do dia dos 70 anos do Maracanã, as informações vão se sucedendo de deixando claro o tamanho do presente de grego que vão dar ao nosso “Maior do Mundo”: o prefeito da cidade do Rio de Janeiro autorizou o reinício das competições esportivas. Em evento sem público. Mas ele, o prefeito que está buscando sua reeleição, garante que se houver jogo estará lá, na quinta-feira, assistindo Flamengo x Bangu. Informou também que Junto a ele estará o presidente da República, que sairá de Brasília para acompanhar a partida. Ou seja, em meio a uma pandemia que mata centena de brasileiros todos os dias, o prefeito do Rio de Janeiro e o presidente do Brasil vão assistir a um jogo de futebol que, para os brasileiros comuns, é sem público. Dois dias após os 70 anos do Maracanã, o estádio viraria (virará) um palco grotesco para uma cena política de baixíssima estirpe.

A menos que esse cenário de insensibilidade seja revertido na reunião do Conselho Arbitral que será realizado na noite desta terça-feira, tudo isso dois dias após a decisão de que o Campeonato Carioca deveria ser retomado. Dois dias. A sensação de pressa é evidente. E real. Por trás dela passa um plano mais ousado da cúpula do futebol carioca, Flamengo, Vasco e Ferj, para criar um cenário que possibilite o início do Campeonato Brasileiro. Na última semana de julho ou na primeira semana de agosto. Ninguém fala publicamente sobre isso, mas nos bastidores os dirigentes confirmam que “voltando o Carioca, os outros estaduais voltarão logo na sequência”. E logo depois, o início do Brasileirão é a próxima meta. Como o campeonato nacional começando, voltam a cair na conta dos clubes as receitas de direitos de transmissão. Como o Brasil vai estar no combate ao Coronavírus até lá? Depois pensa-se nisso...

As prioridades para os políticos estão aí. As prioridades para os dirigentes do futebol estão aí. Eles só poderiam buscar o que de verdade lhe importam sem usar o Maracanã, repito, palco de um hospital de campanha para salvar pessoas, como pano de fundo para isso. O “Maior do Mundo” não merecia isso. Muito menos ao completar 70 anos.

Leia também

Mais em Blogs