16/4/1970: Zagallo achava impossível escalar Pelé e Tostão no México
O dia a dia do Brasil para a conquista do tri. Zagallo ainda não achava o time em quase um mês de trabalho. Mas insistia que a dupla de ataque que funcionara com Saldanha em 1969 não jogaria com ele no México.
Por Mauro Beting
10 minutos do segundo tempo no Pacaembu. Robertão de 1969. O Corinthians vence o Cruzeiro por 1 a 0. O zagueiro paulista Ditão enche o pé pra afastar a bola da área. Ela bate no olho esquerdo do craque mineiro e artilheiro brasileiro nas Eliminatórias para a Copa com 10 gols em 6 jogos.
Naquele 24 de setembro de 1969, em São Paulo, Tostão sofre descolamento da retina pelo trauma. Vai até os EUA tratar a lesão. Não se sabia se voltaria até mesmo a jogar profissionalmente o belíssimo e inteligente jogo de um gênio que desde o início daquele ano estava jogando mais à frente no pentacampeão mineiro. O treinador Gerson Santos fez uma dupla de volantes celestes de grande qualidade como Piazza e Zé Carlos. Tão bons que ambos foram convocados por João Saldanha em fevereiro de 1970 para o grupo que disputaria a Copa no México.
Com os dois homens no meio e Natal e Hilton Oliveira nas pontas, Dirceu Lopes foi avançado e Tostão virou a referência um pouco mais à frente, no lugar de Evaldo.
Mais ou menos como brilharia nas Eliminatórias do mesmo ano contra as frágeis Colômbia e Venezuela, e contra a razoável seleção do Paraguai. Ao lado de Pelé, com Jairzinho e Edu nas pontas, Piazza (colega de Cruzeiro) e Gerson na intermediária, o 4-2-4 das "feras" de Saldanha funcionou muito bem.
Saldanha perdeu Tostão para o início dos trabalhos para a Copa, iniciado em 12 de fevereiro. Apostou em outro companheiro mineiro para fazer a função. O não menos genial Dirceu Lopes. Meia-atacante driblador, intuitivo, igualmente brilhante. Mas que nunca foi de amarelo a mesma estrela da constelação celeste.
No primeiro jogo do Brasil em 1970, em 4 de março, no Beira-Rio, toda a Seleção jogou mal na derrota por 2 a 0 para a Argentina. Melhorou na revanche no Maracanã. 2 a 1 Brasil. Mas Dirceu seguiu amuado lá na frente, ao lado de Pelé.
O problema é que estranho corte do doutor Lídio de Toledo tirou o centroavante Toninho Guerreiro da Seleção. "Sinusite" o motivo alegado, em 1º de março. Para o ortopedista, isso o atrapalharia na altitude da Cidade do México. O atacante do São Paulo pediu até intervenção do governo militar contra o corte. De fato, isso nunca o atrapalhou. Ele jogou 27 vezes no México sem problemas.
Saldanha não achava a solução na frente. Não teria mais tempo para isso ao ser demitido em 17 de março.
Zagallo assumiu no dia seguinte. Na véspera já dizia que, se fosse o treinador da Seleção, convocaria Roberto (seu centroavante no Botafogo), e mais um nome. "Na Copa do Mundo não teremos muito espaço. Não tem mais como jogar com tabelinhas. Teremos que chegar ao fundo e cruzar as bolas. O Brasil precisa ter alguém lá na área como foi o Vavá em 1958 e 1962".
Por isso ele já convocou de cara Roberto Miranda. E mais um nome: Dario, do Atlético Mineiro. O preferido do presidente do Brasil, o general da ditadura Emilio Médici.
Por isso que naquele 16 de abril de 1970 Zagallo insistia com a imprensa. Naquele dia de modo mais veemente: "é impossível Tostão e Pelé juntos no mesmo time. Eles jogaram bem nas Eliminatórias. Mas Copa do Mundo é outra coisa. Jair, Tostão, Pelé e Edu é 4-2-4 (o esquema de Saldanha). Meu time é 4-3-3"
De fato, seria mesmo diferente.
Como defendia mais uma vez Pelé. "Até a Copa estaremos todos melhores condicionados. Hoje eu me sinto muito bem e sigo treinando muito forte. Agradeço àqueles que me elogiam e entendo as críticas dos que me acham ultrapassado e sem condições de atuar pela Seleção. Mas insisto que só Deus que meu deu o dom de jogar futebol pode definir o momento de eu deixar de jogar. Mais ninguém".
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