27/4/1970 - Leão, Dirceu Lopes, Zé Carlos e Arilson cortados
Zagallo trabalhou com 27 atletas desde 19 de março. Os 22 chamados por João Saldanha e mais cinco que o novo treinador trouxe quando assumiu o barco. O zagueiro Leônidas já tinha sido cortado por lesão em primeiro de abril. Um dia antes do esperado, a comissão técnica cortou quatro nomes: todos esperados.
Por Mauro Beting
Quarto 8 da concentração brasileira, no começo da tarde de segunda-feira, depois do almoço da delegação com o governador da Guanabara Negrão de Lima, no Rio, no Iate Clube.
Leão abre a porta para o treinador Zagallo, o presidente da comissão técnica Antonio do Passo, o supervisor Cláudio Coutinho, os preparadores físicos Admildo Chirol, Raul Carlesso e Carlos Alberto Parreira, e o médico Lídio de Toledo. A comitiva senta na cama do goleiro palmeirense. Ele, em uma cadeira.
Chorando, na versão de Leão, o treinador disse que teria que cortá-lo da relação final para a Copa no México, que começaria para o Brasil em 3 de junho.
"Leão, nós cortamos você, mas nem nós mesmo sabemos o motivo".
O goleiro foi o último dos quatro nomes que foram cortados, segundo a comissão técnica. Seria ele ou Ado. Ou até mesmo Joel, zagueiro do Santos. Zagallo já cogitava escalar Piazza na zaga. Acabou sobrando para o goleiro mais novo entre os três que treinavam no Itanhangá.
Leão contaria no final do dia (depois de chegar em São Paulo pela Ponte Aérea, às 18 horas, com o terno com que viajaria para o Mundial), que chorou quando soube do corte. "Pelo meu trabalho nos treinos e jogos eu estava no mesmo nível técnico que meus companheiros. Mas sabia que Félix tinha chegado com o passaporte carimbado para o México".
O craque cruzeirense Dirceu Lopes disse ao chegar em Belo Horizonte que "não tenho o direito fe reclamar. Géson e Rivellino são excelentes. Não guardo ressentimentos e nem estou abatido. Com o Saldanha eu sei que eu iria para a Cooa. Com o Zagallo eu já estava preparado para o corte. Ele me queria mais atrás, no meio-campo. Mas como eu não comecei nenhum jogo como titular dele, já imaginava que seria cortado".
Uma das maiores injustiças das Copas foi Dirceu não ter disputado a de 1970.
Zé Carlos, companheiro de meio-campo e de Cruzeiro, também disse que já esperava não estar entre os 22. Era nome de confiança de Saldanha, não de Zagallo.
Arilson disse a Leão, e confirmou também publicamente, que a Seleção quebrou um galho para ele: em vez de ser suspenso por um ano por agressão a um bandeirinha, em dezembro de 1969, ele foi apenas multado por ter sido convocado quando Zagallo assumiu. "Sabia que a parada seria difícil, ainda mais contra Edu e Paulo César Caju. Nunca comecei como titular desde que cheguei".
Leão também disse que o preparador Admildo Chirol voltou ao quarto dele para o consolar: "se quiser, pode chorar no meu ombro. Mas fique tranquilo. Você é muito jovem. Tem uma longa carreira pela frente".
Nenhum dos dois imaginava que o retorno seria tão rápido.
Nem mesmo Leão, que citou aos repórteres sua confiança no futuro - mas não tão próximo:
"Carlos Alberto foi cortado em cima da hora em 1966 e quatro anos depois é o capitão da Seleção."
Na quarta-feira, o Brasil faria o último amistoso antes de partida para o México, na sexta-feira. Áustria, no Maracanã.
Com a novidade de Rivellino começando entre os titulares. Melhor: com Tostão escalado ao lado de Pelé.
"Paulo César precisa ser poupado", disse o treinador. Tanto fisicamente quanto das críticas pesadas, ainda mais depois de ser xingado antes de a bola rolar no domingo, no empate sem gols com o sub-23 da Bulgária.
Gérson estava feliz com a escolha do Zagallo, com Rivellino, Tostão e Pelé desde começo. E via naquele time potencial para ser o titular no México.
João Saldanha seguia insatisfeito. Ele queria Tostão e Pelé juntos, como brilharam com ele nas Eliminatórias. Mas com Edu no lugar de Rivellino. "Nosso time continuará apenas entrando em campo para se defender".
Nelson Rodrigues, em O GLOBO, também cornetava Zagallo: "sem correr riscos a gente não consegue nem atravessar a rua. O treinador preferir Paulo César a Edu é renunciar ao triunfo. Zagallo precisa entender que o esquema que foi excelente para o Botafogo dele é incompatível para o nosso escrete".
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