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29/4/1970 - Brasil 1 x 0 Áustria, vitória do "time do povo"

Seleção se despede dos campos brasileiros na antevéspera da viagem ao México fazendo boa partida. Com Tostão e Pelé juntos, Rivellino mais atrás, a equipe que o "povo" queria  

Rivellino depois do gol da vitória brasileira. Foram 12 chances do Brasil e apenas uma da Áustria
Rivellino depois do gol da vitória brasileira. Foram 12 chances do Brasil e apenas uma da Áustria

Por Mauro Beting

Foi o primeiro adversário de nível que o time de Zagallo enfrentou desde que ele assumiu, em 18 de março de 1970. Foi a mais consistente atuação da equipe. Não por acaso, com Tostão e Pelé juntos, e Rivellino mais atrás, pela esquerda, na função que Paulo César Caju não vinha conseguindo fazer.

"Esse não é o meu time. É o do povo", desdenhou Zagallo, depois do 1 a 0 contra a Áustria. Gol de Rivellino, "torto" pela direita. Mostrando que a sua patada atômica não podia ser desprezada pelo treinador.

O Brasil jogou melhor. Mas não tão melhor assim. Até porque a formação ofensiva ainda não tinha jogado junta. Nem treinado.

A torcida não vaiou desde o início. Mas não tinha tanta paciência e tolerância. Aos 3min, Pelé bateu longe uma falta sofrida por Rivellino. Os 57 mil presentes (público ruim para aqueles tempos) vaiaram o Rei do Futebol como se fosse mero plebeu. Cena que se repetiria aos 42, depois de grande arrancada de Gérson até ser derrubado. Falta de muito longe que Pelé bateu direto e fraco pra fora. Mais vaia.

A primeira chance brasileira seria em lance semelhante ao primeiro, aos 14: falta sofrida por Rivellino, bomba de Pelé. Desta vez rasteira, para ótima defesa do goleiro austríaco.

Diferentemente de Félix, que falhara de modo bizarro em três lances em apenas duas jogadas até os 7min. Inseguro e confuso, o veterano goleiro brasileiro tinha mania de jogar sem luvas. O que também o atrapalhava. Mas não que comprometesse sua atuação ao final.

Sem a bola, a Seleção começava a fazer o que pretendia Zagallo: marcação atrás da linha dela, e atenção dos 11: Tostão mais à frente (por vezes isolado demais), Pelé atrás dele, Rogério colado à linha lateral, e o trio do meio alinhado, com Clodoaldo à direita, Gérson por dentro, Rivellino pela esquerda. Com a ótima atuação de Brito e Piazza (seguro na nova função), sustos defensivos só naquele início instável de Félix.

O problema foi o lado esquerdo. Marco Antonio apoiou pouco. A rigor a primeira vez foi só aos 30 minutos. Na segunda, aos 36, fez bom lance que Gérson não concluiu apor furar espetacularmente. Carlos Alberto apoiava mais e melhor pela direita, também pela parceria com o espetado Rogério.

Pelé não gostava de abrir pela esquerda. Rivellino naturalmente vinha (muito bem) por dentro, e pouco foi pelo setor. Sobrou espaço anecúmeno. Tanto que, aos 20, Tostão rolou a bola para... ninguém por ali. Mais reclamação da calada torcida.

O Brasil chegava em tiros de longe. Como o de Rogério, aos 23, que raspou o travessão, outrao de três dedos de Rivellino, que raspou a trave esquerda, aos 28, e uma boa defesa do goleiro austríaco num tiro de fora da área de Carlos Alberto (no único lance de Pelé pela esquerda), aos 30. Mas a Seleção tentava também por dentro e por baixo, como pretendia Saldanha, e não Zagallo, nas tabelinhas inteligentes e técnicas de Pelé e Tostão. O problema era ainda a falta de ritmo do craque celeste, que cansaria rápido (como era de se esperar pra quem fez seu segundo jogo desde setembro de 1969). Diferentemente do craque celestial santista que parecia um garoto, pegando a bola ainda na defesa e se mexendo por todo o ataque.

A torcida timidamente apoiou a equipe. Aos 31 minutos começou a gritar mais forte "Brasil". Mas por pouco tempo. O jogo não empolgava tanto, embora fosse melhor que as atuações anteriores.

Ao final do primeiro tempo, algumas vaias. O Brasil chegara quatro vezes com perigo. Os austríacos, apenas nas falhas de Félix.

Na segunda etapa, o Brasil foi melhor. Também porque o camisa 21 Jairzinho entrou melhor do que Rogério. Não só por ser mais jogador e em melhor condição atlética (o seu companheiro de Botafogo estava sem jogar, vinha de lesão, e não podia se estourar com o risco real de ser cortado). Também porque por ser meia-atacante, o futuro Furacão da Copa flutuava melhor por dentro. Sabia tanto atuar aberto como Rogério, como cortava em diagonal em direção ao finado de ataque com muita técnica, força e velocidade. Abrindo o corredor para Carlos Alberto apoiar com liberdade, sem trombar com um ponta que não saía do lado de campo como Rogério.

Não apenas Jair deu mais gás. O time parecia melhor fisicamente. Com vontade de responder pela bola. Como Pelé, aos 5 do segundo tempo, correu mais de 20 metros até desarmar um meia austríaco. A retomada do Rei como se fosse um volante rendeu aplausos. E um belo exemplo aos companheiros.

Marco Antonio se soltou mais. Rivellino, o melhor brasileiro, o mais acionado, e quem mais buscou o jogo, soltou o pé aos 6 é só não fez pela bela atuação do goleiro xxx. Aos 7, em belo lance individual de Jair, outra boa defesa. Aos 12, não teve jeito. Gérson achou Rivellino pela meia-direita. O camisa 11 corintiano driblou o primeiro pra direita, jogou pro pé admirável, limpou e colocou da entrada da área a bola que ainda bateu na trave direita austríaca. Belo gol.

Gérson também saiu mais pela esquerda. Formou-se um triângulo no meio-campo mais dinâmico. Pelé quis mostrar que estava bem. Deu um passe de calcanhar sensacional pra Jairzinho aos 16. Aos 18 escapou pela esquerda contra quatro a cavou o escanteio que bateu.

(Aliás, para registro: só dois dos escanteios brasileiros não foram CURTOS. Só duas bolas cruzadasna área. Só pra não perder o tema que ainda não entendo o porquê de tanta discussão inútil).

Aos 22, logo depois da primeira chance austríaca no jogo (mal finalizada por cima da meta), mais aplausos do que vaias para o número 19 que entraria: Dario substituindo o exausto Tostão.

O Brasil já não estava 100% fisicamente. Mas a Áustria estava bem pior. A Seleção seguiu arrancando por dentro segurando a bola com Riva, Gérson e também Clodoaldo. E assim criando bons lances. Como Carlos Alberto quase marcou belo gol, aos 25.

Mas o mais bonito foi de Dario, aos 26. Recebeu de Pelé por dentro, deu um lençol de calcanhar esquerdo no zagueiro, e bateu a bola que raspou a trave, depois de desvio do goleiro.

A questão: o chapéu foi por querer ou a bola bateu no tornozelo dileto do presidente Médici, que assistiu ao jogo na tribuna do Maracanã?

Na dúvida, sem querer. Na prática, tanto faz. Dario era uma figura. E grande goleador. E sempre na área. Em três minutos teve mais duas chances.

Essa já era uma das boas qualidades do time brasileiro: a equipe chutava de tudo quanto é lado. Até porque tinha gente de grande qualidade e potência para isso. Até para chutar quando não deveria. Como fez Dario na inocência ao chutar a canela do adversário que se antecipou ao lance, aos 35, e foi substituído.

No final da justa vitória, o melhor foi a disposição de toda a equipe, marcando forte e dando carrinhos como se fosse jogo de Copa. No apito final do argentino Comesaña, os austríacos voaram para cima de Pelé. Só pra trocar a camisa real.

Até para evitar vaias (que não vieram e não seriam merecidas), assim que que acabou o jogo, o fantástico tema musical de Miguel Gustavo foi tocado no Maracanã: PRA FRENTE, BRASIL!

Não tinha como não embalar aquele time.

No frigir das bolas, a Seleção teve 12 chances de gol e apenas uma perigosa para a Áustria.

MINHAS NOTAS DOS BRASILEIROS:

Félix (5);
Carlos Alberto (8), Brito (8), Piazza (7,5) e Marco Antonio (5,5);
Clodoaldo (7,5), Gérson (8) e Rivellino (8,5);
Rogério (5,5), [Jairzinho (8)], Tostão (6,5) [Dario (7)] e Pelé (8).
Zagallo (7,5)

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