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Com manifesto, jogadores do Brasil tentam fugir da ‘areia movediça’ em que se meteram

A forma como o manifesto raso foi conduzido evidencia para mim que eles perceberam que se meteram em uma situação de difícil contorno. Que acabaram apanhando dos “dois lados” e tentaram sair falando o menos possível, sem explicar nada

Por Vitor Sérgio Rodrigues

Cenas de pessoas sendo engolidas por areia movediça são comuns no cinema. A lição é que a areia movediça não pode ser encarada, pois você será sugado ou sugada por ela, de forma mais rápida quanto mais se debater tentando fugir. O manifesto publicado pelos jogadores da seleção brasileira após a vitória por 2 a 0 sobre o Paraguai, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo teve um caráter de o grupo se debatendo para fugir de uma questão tão perigosa e envolvente quanto um poço de areia movediça.

O texto é muito raso e nem de longe dá explicações que foram prometida para o pós-jogo de Assunção. No fim de tudo, os jogadores dizem que são contra a realização da Copa América nessas bases, por questões humanitárias (que nos fazem pensar que se referem à gravidade da pandemia de Coronavírus no país, mas isso não foi dito no texto...), mas que vão jogar mesmo assim. Se a carta parasse por aí, já haveria muita coisa a ser explicada. A principal delas é a falta de um posicionamento parecido pela competição ser disputada normalmente na Colômbia e na Argentina, países que também sofrem com a doença.

Mas a parte mais incompreensível da carta é a que diz que "eles nunca dirão não à seleção brasileira". Esse trecho, junto com uma parte do parágrafo anterior, citando que “tentavam evitar que mais notícias falsas envolvendo seus nomes circulassem”, evidencia que o grupo da seleção brasileira estava tentando sair de uma situação complicada em que se meteram. E, de fato, não conseguiram.

Na última sexta-feira, quando as manchetes dos principais veículos de comunicação do país estampavam que o grupo do Brasil considerava fortemente não jogar a Copa América por discordar da realização do torneio em meia a crise de Coronavírus no país, o volante Casemiro deu entrevista na saída do campo do Beira-Rio dizendo que “todos nós sabíamos o posicionamento do grupo”. O repórter da TV Globo, Eric Faria, tentou tirar detalhes do que se tratava, mas o jogador não quis explicar. Mas também não desmentiu nada do que estava sendo veiculado. E que começou a ser publicado quando Tite reconheceu que havia uma insatisfação grande no dia anterior.

Se “notícias falsas estavam circulando” até aquele momento e que em momento algum o grupo cogitou boicotar a Copa América, era natural que Casemiro dissesse, no mínimo, que as reportagens não estavam no caminho dos acontecimentos. Mas o que o volante da seleção fez foi justamente ao contrário, ele validou as notícias existentes até ali, ao dizer que o que o grupo inteiro (incluindo a comissão técnica) queria já era sabido.

Terminada a partida contra o Paraguai, o manifesto divulgado foi uma estratégia para tentar tirar o grupo da areia movediça em que se meteram, mas sem sucesso. Porque ele sozinho não explica nada. Ainda há muitas perguntas sem respostas. Quais as “ideias distintas” dentro do grupo? Como essas ideias impactaram na decisão final do grupo? O que foi conversado na reunião com Rogério Caboclo na sexta-feira? Quais as consequências do afastamento do presidente da CBF no desfecho do caso? Como eles pretendiam se posicionar sobre o tema sem esperar que isso se tornasse um tema político?

Olhando o perfil de vários jogadores do grupo, incluindo os líderes do elenco, nunca considerei que esses jogadores boicotariam a Copa América porque a pandemia ainda está descontrolada no Brasil. Não combina com a forma como a maioria deles se portou ao longo dessa crise sanitária. Logo, a decisão do “somos contra, mas vamos jogar mesmo assim...” não me decepcionou em nada. A forma como o manifesto raso foi conduzido evidencia para mim que eles perceberam que se meteram em uma situação de difícil contorno. Que acabaram apanhando dos “dois lados” e tentaram sair falando o menos possível, sem explicar nada.

Do jeito que eles tentaram abafar o caso, acho que a postura daqui para a frente será o consagrado “estou aqui para jogar bola apenas” será muito utilizado daqui para frente.

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