Por Mauro Beting
10 da noite na Argentina. Palmas, buzinas, panelas batidas por Diego. El Diez que deixou o mundo prostrado como se fosse em 1986. Maradona que uniu Boca e River num aplauso em tempos de canchas vazias. Em um abraço de arquibancadas rivais.
Como o Internacional que pintou as cores argentinas - e também as dos rivais figadais - no Beira-Rio no dia do jogo que seria contra o Boca do coração que parou (se é que esse coração tão humano de tão falho realmente não bate mais).
El Pibe não teve só a perna esquerda mais mágica para jogar bola (para jogar futebol eu sou mais Messi). Maradona foi quem mais bateu o coração pela gente. Como se fosse o que ele realmente foi mais do que todos – gente como a gente. Ele é o gênio genioso que mais jogou e mais foi julgado. Jamais subjugado. Até pelo peito de pomba que não se curvava e adorava jogar bombas contra os donos das bolas e botões. Com ou sem razão.
Dom Diego da pelota que não se mancha. Tão humano de tão errado que a gente ama se identificar com quem é todo torto e todo gauche como descreveria Drummond. Como melhor escreveu de Diego o uruguaio Eduardo Galeano.
Maradona é esse facho de luz que é toda a hinchada além da “metade mais um” da Argentina (como é conhecida a gente xeneize do Boca Juniors). Diego é esse pibe do barrio que conquistou o mundo para a Argentina tungando a Inglaterra das Malvinas. Justiçando a ditadura militar que acabou em 1983 e matou e sumiu com mais de 30 mil hermanos de Diego.
Diego é isso. Diego somos nós que viramos D10S. O mais humano deles. Um Batman da Villa Fiorito.
Entre todos os craques e gênios não só do futebol, Diego Armando foi o mais torcedor de todos eles. O que mais vibrava com a galera. Ele não jogou pra torcida. Ele era o torcedor em campo. E fazendo coisas que nem em sonho de fã.
Por isso a imagem que mais me impacta é a da Bombonera apagada só com a luz do camarote dele no estádio bostero. Ele está ali iluminando a Boca. E todas as nossas almas que o viram fazendo coisas de quem viu, viu. Quem viveu, não viverá. Quem sobreviveu, pode bater no peito.
Diego não jogou pra galera. Ele era a hinchada.
Ou melhor: a diegada é ele.