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E eu que disse que não seria goleada... Bayern de Munique 8 x 2 Barcelona!

De fato, não foi goleada.

Foi algo que ainda não estava escrito.

E não deverá ser reescrito.

Não foi atropelamento que é expressão infeliz.

Foi um Bayern no Barcelona. Melhor assim.

O homem do jogo de um jogo inesquecível
O homem do jogo de um jogo inesquecível

Por Mauro Beting

Antes de a bola rolar, apostava 60% no Bayern e 40% no Barcelona. Só não apostava mais por ser o Barça. O time do Messi. A camisa poderosa. Tudo aquilo que a gente sabe.

E tudo que o Bayern vinha jogando em 2020. Aquilo que comentei logo depois da transmissão dos 3 a 0 no Chelsea, no bailão de Carnaval alemão em Londres, pelo Facebook do Esporte Interativo.

Para mim, então, o Bayern era o favorito para a conquista da Liga. E mais ainda passou a ser depois que voltou no mesmo nível depois da parada.

Meu bolão era uma final entre Bayern e Atlético de Madri...

Uma parte já foi. A outra, ainda pode ser. Dentro do que é futebol. E ainda mais em jogo único, em campo neutro e sem torcida.

Mas quem sabe alguma coisa?

Eu, certamente não.

Esse Bayern sabe demais!

Acho que foi meu primeiro comentário na trasmissão que fiz da minha casa pelo Esporte Interativo, logo depois do gol de Thomas Muller, aos 3 minutos na Luz. Bastaram 184 segundos para se fazer a lógica - vitória bávara, mas não por tudo isso...

Eu disse que aquele gol da máquina alemã era mais um da sequência histórica de (até então) 18 vitórias seguidas do Bayern, que começou o jogo com 56 gols marcados e 13 sofridos nessa impressionante marcha desde fevereiro de um time que não perde desde dezembro (27 vitórias e um empate).

Mas terminei dizendo que nessas 18 vitórias, 9 tinham sido de goleada. Mas que eu não acreditava que o jogo desta sexta terminasse assim contra a equipe de Messi. O Barcelona que mesmo capengando era o Barça de 13 quartas-de-final seguidas de UCL até esta. Ainda que um time que em 2018 caiu por 3 a 0 em Roma, 4 a 0 em Liverpool em 2019.

E, agora, e para sempre, por 8 a 2 em Lisboa para o Bayern de Flick.

Pois é...

Queimei a língua.

Sétien, a cara.

Mas tinha como imaginar que o Barcelona seria socado e sucateado como se fossem 11 Mauro Beting em campo?

Ainda que também respondesse bem para começo de conversa antes da sova. Ou ganhasse na infelicidade de Alaba o empate, aos 6min, depois de bom lance de Alba pela esquerda, explorando a linha de zaga sempre alta da equipe alemã. Um jeito de encurtar o campo e encurralar o rival como bem executa o time alemão, que aproxima as linhas do seu 4-4-2 na fase defensiva. Apertando não apenas as três linhas de sua equipe em pouco espaço. Elas também são muito estreitas. Fica um retângulo ínfimo para o adversário trabalhar. Ainda mais um tão atrapalhado como esteve e como tem estado o Barcelona de Quite Oitien (perdão, mas foi mais forte do que eu o trocadilho infeliz como o time culé nesta sexta sem compaixão...).

E é QuiTe Sétien. De "tirar" o Sétien como seria sacado depois do jogo.

Sétien até tentou povoar mais o meio-campo com o esquema adotado. Sem a bola, um 4-4-2, com Sergi Roberto e Vidal pelas bandas, Busquets e De Jong por dentro, para liberar Messi muito bem no início a partir da direita, e Suárez mais à frente.

Tentando atacar, como até fez bem nos primeiros 20 minutos, o Barça se portou no 4-3-1-2 que deu melhores resultados na temporada pós-Valverde (janeiro) e pós-parada. Mas apenas na vitória sobre o Valladolid (1 a 0) com Vidal como enganche.

O que ele não conseguiu fazer direito. Também porque Goretzka, com e sem a bola, e Thiago Alcantara, quase sempre, pouco concederam ao time espanhol.

Sempre foi um jogo maluco. Como o gol contra de Alaba, e o cruzamento de Messi que bateu na trave de Neuer, aos 9min. Seria talvez o primeiro gol do genial argentino sem querer.

Aos 19, porém, Messi foi Messi, passou por quatro e bateu para a defesa de Neuer. O Barça era mais perigoso e criativo até que... Gnabry roubou mais uma bola no gegenpressing bávaro e trabalhou com Perisic para ele bater e vencer Ter Stegen. Os dois pontas alemães juntos numa retomada. Parecia mesmo um time dobrado em campo contra outra equipe que foi empacotada a partir daí, aos 21.

Gnabry fez 3 a 1 aos 26 recebendo passe espetacular de Goretzka.

Muller fez 4 a 1 aos 30. Com a eficiência brutal do Bayern e dos alemães quando focados.

Em 2014, na semifinal do Mineirão, quando Kroos fez 4 a 0 Alemanha, aos 25min05, Galvão Bueno soltou a célebre “virou passeio”. Aos 28min48s, o Brasil levou o quinto gol. Em 6min40s, em Belo Horizonte, o Brasil sofreu quatro gols dos alemães.

Esses caras que honram a célebre piada inglesa - que não é de Gary Lineker: “futebol é um esporte em que duas equipes de 11 atletas jogam por 90 minutos e o vencedor é a Alemanha”. Honram porque respeitam os rivais sem fazer firula, sem fazer embaixadinha, sem chamar para dançar, sem dar bico pra lateral, sem postar meme além da própria atuação antimimimi (e anti qualquer bípede que só fala que qualquer reclamação é mimimi).

O passeio na Luz foi tão desproporcional que o árbitro terminou o primeiro tempo sem acréscimo (mesmo com cinco gols marcados).

Parecia covardia. E nem as mexidas do Barça resolveriam. Griezmann veio a campo. Mas o time, menos ainda. Bayern foi fazendo o dele como nenhum outro time no mundo este ano - e nos últimos, também (ainda que tenhamos visto um tri do Madrid, e um Liverpool tão bacana em 2019-20). Jogou contra o Barça como se o rival fosse um time de bairro.

Aos 11, Suárez marcou seu primeiro gol sem ser no Camp Nou em Champions desde novembro de 2015. E foi muito bonito. Um drible em Boateng que o zagueiro alemão só não caiu de cara no chão porque já havia feito isso há cinco anos contra Messi.

4 a 2. Mas nem assim parecia que daria.

Acordaram a besta. E os culés bovinamente aceitaram...

Aos 17, o melhor lateral-esquerdo do mundo hoje (Davies) avançou como se fosse o ponta que era e serviu o outro lateral do Bayern dentro da área.

Lembra que era proibido dois laterais avançarem ao mesmo tempo?

Pois é...

5 a 2 Bayern. Gol de Kimmich.

Jogadaça do maior jogador da história do futebol canadense (sim, não existem outros...). Davies de pais que nasceram na Libéria, foram refugiados em Gana onde ele nasceu, até partirem para Edmonton, aos 5 anos.

História de vida belíssima. Como a desse Bayern impressionante.

Também pela seriedade.

Fez 5 a 2 e jogou como se precisasse mesmo marcar mais gols.

Era um jogo mesmo maluco. Tanto que eram 7 gols até então, e nenhum de Messi (que participou de 56 gols blaugranas em 43 jogos na temporada, representando 53% dos gols do Barça na Champions), e nenhum de Lewandowski (responsável por 54% dos gols do time que ganhou seus 9 jogos na UCL, e da marca absurda de 69 gols em 44 jogos na temporada, entre os marcados e as assistências do artilheiro polonês).

Mas enfim se fez a lógica: 6 a 2, Lewa de cabeça, depois de cruzamento de Coutinho, aos 36.

Coutinho que entrou aos 30 no lugar de Gnabry. Para ser o que foi Schurrle nos 7 a 1.

O ex-barcelonista marcou aos 39, depois de passar por Semedo como todos passaram, e chutar a bola que Ter Stegen nem com o pé foi. 7 a 2.

E tinha mais!

Aos 43, Coutinho fez mais um e não celebrou.

8 a 2.

O árbitro deu mais dois minutos e acabou o jogo que jamais terminará.

Acho que perdi as contas.

Como já havia perdido meu comentário inicial.

Mas perdi menos do que o time de Messi. Ele até fez coisas boas para não perder de oito de uma equipe que finalizou 24 vezes, criou 15 chances, e marcou oito.

Barcelona que teve 8 chances e marcou dois gols. É otimo número de oportunidades criadas contra um rival como o Bayern. Marcar dois gols contra Neuer é pra poucos (ainda que um tenha sido realmente contra).

Mas ainda levará um incerto tempo para entendermos tudo que aconteceu na Luz. A pior goleada de um time que trocou de treinador - como deveria em janeiro - e se perdeu de vez. Mais uma goleada sensacional de um timaço que trocou de técnico em outubro, perdeu a última vez em dezembro, empatou o último jogo em fevereiro, e pode ganhar a Champions ganhando todos os jogos.

Como conquistou o mundo todo agora com um placar fantástico.

De um jogo para queimar língua de comentarista, carreira de treinador, vida de atleta.

Mas para a gente guardar nos olhos congelado numa memória muito quente.

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