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Fenômeno MLS: Cresce o número de brasileiros na liga estadunidense

Em 2021 pela primeira vez na história tivemos cerca de 30 jogadores na competição e, em 2022, esse número não só se repetiu, como deve aumentar; nossa reportagem conversou os jogadores Alexandre Pato, Talles Magno e Vinicius Mello para colher opiniões a respeito do campeonato e quebrar alguns estigmas

Bandeira com a logo da MLS
Bandeira com a logo da MLS - Robbie Jay Barratt - AMA (2018 AMA Sports Photo Agency)

Por Larissa Carvalho

Em 1975, Pelé, que havia anunciado aposentadoria dos gramados no ano anterior, decidiu voltar a jogar futebol. O “palco” escolhido por ele se encontrava a muitos quilômetros do Brasil: O Rei vestiu a camisa do New York Cosmos, dos Estados Unidos, onde jogou por cerca de dois anos. Atualmente, o futebol estadunidense é representado pela Major League Soccer (MLS), a principal liga do país. No ano passado, o número de jogadores brasileiros na competição alcançou o maior da história. Uma tendência de aumento que vem se revelando nos últimos anos.

Pelé desistiu da aposentadoria para defender a camisa do New York Cosmos, dos Estados Unidos
Pelé desistiu da aposentadoria para defender a camisa do New York Cosmos, dos Estados Unidos

História e organização

A MLS é uma liga de futebol que conta com 14 times, reunidos na primeira divisão do campeonato. O especialista em MLS Pedro Luis Cuenca, de 30 anos, avalia que, em relação ao Brasil, "as questões táticas e técnicas da MLS ainda são inferiores". Ele pontua que uma das razões para essa distância de nível é a juventude da liga, criada em 1993 por uma exigência da FIFA, para que os Estados Unidos pudessem sediar a Copa do Mundo em 1994. "A gente não pode esquecer que temos clubes centenários aqui, temos um desenvolvimento do nosso futebol há décadas. A gente tem muito mais história acumulada", acrescenta.

Diferentemente do modelo de pontos corridos no Brasil, lá não existe rebaixamento entre as divisões e os clubes precisam pagar e atender a alguns critérios, como estruturais, para fazer parte da elite do esporte. O campeonato é organizado de modo similar ao adotado pela NBA, no basquete, com dois turnos, sendo o primeiro com jogos de ida e volta entre equipes da mesma conferência e o segundo com jogos únicos entre equipes de conferências distintas.

Para ser oficialmente campeão da MLS Cup, os sete melhores colocados nessa fase anterior se classificam para os mata-matas. O melhor posicionado de cada conferência tem uma "folga" na primeira eliminatória, enquanto os outros 12 vão a campo. Desta forma, sobram oito times para a fase seguinte, de quartas de final.

A bandeira dos EUA é ovacionada antes de partida da MLS | Getty Images
A bandeira dos EUA é ovacionada antes de partida da MLS | Getty Images

Mas não são apenas fatores funcionais que distanciam a liga estadunidense da brasileira. Para o Diretor Executivo de Futebol do Orlando City, Ricardo Moreira, uma importante diferença está na gestão esportiva, já que na MLS os executivos dirigem clubes-empresa. “Na grande maioria dos clubes brasileiros a gestão está pautada unicamente pelo resultado. Aqui a gente tá pautado pelo resultado também, mas além do resultado, as regras da própria liga te obrigam a ser um gestor responsável e cuidar do dinheiro do clube. Você precisa ter um estudo analítico, de scout, de projeção, se você vai vender o jogador ou não, ou seja, tudo isso faz parte de uma gestão mais profissional”, explica o dirigente.

Outro ponto interessante na liga é o teto salarial de 600 mil dólares anuais por jogador. “Basicamente é como se você tivesse 10 milhões de dólares para investir em 30 jogadores do meu elenco, e se eu pagar 300 mil dólares por jogador, ele conta com 300 mil dólares do meu orçamento, então eu passo a ter 9,7 milhões de dólares para o resto dos jogadores”, exemplifica Ricardo. Apesar disso, cada clube pode ter até seis “jogadores designados”, três de qualquer idade e outros três jogadores designados sub-22, os quais são exceções e que podem receber o salário acima do teto. “Esse é um dos motivos que a liga tem crescido, ela tem permitido aos clubes fazerem investimentos em jogadores mais jovens, com potencial de revenda.”

O Brasil e a MLS

Nos últimos cinco anos houve um crescimento significativo de brasileiros na competição. Em 2021 o número alcançou a casa decimal dos “30” — algo nunca antes ocorrido. Pela primeira vez, a MLS contou com mais de 30 talentos nacionais. Em 2022, esse mesmo número se repetiu: até o momento, a liga conta com 31 atletas do país do futebol (número que deve aumentar nos próximos dias com a transferência de Gabriel Pereira, do Corinthians, ao New York City FC).

Para entender de perto esse fenômeno, nossa reportagem conversou com três desses jogadores que escolheram disputar a Major League nos últimos dois anos: Talles Magno (New York City), Alexandre Pato (Orlando City) e Vinicius Mello (Charlotte FC).

Talles Magno: Otimismo

Existem motivos variados para que um brasileiro decida deixar o lugar dele, a cultura, os costumes, os amigos e a família e opte por ir para um lugar distante. "Corajosos" é como o especialista Luis Cuenca caracteriza os jovens que tomam essa decisão. Para ele, ir para a liga estadunidense pode representar, muitas vezes, um afastamento das chances de chegar ao futebol europeu e também à Seleção Brasileira pois “ainda tem um preconceito, as pessoas não querem convocar para uma Seleção alguém que joga na MLS, os olhos se fecham para o futebol dos Estados Unidos.”

Encarando por outra perspectiva, o atacante Talles Magno, de 19 anos, viu na Major League uma oportunidade estratégica de se posicionar no mercado. Ele chegou aos Estados Unidos no ano passado e com menos de um ano na elite do futebol nacional já conquistou o primeiro título profissional da carreira, a taça da Conferência Leste, e também a MLS Cup, principal troféu do campeonato. Para o jogador, estar na MLS é uma vitrine a mais para alcançar objetivos maiores, como o futebol europeu.

Talles Magno posando para foto com o troféu da MLS Cup | Reprodução/Instagram
Talles Magno posando para foto com o troféu da MLS Cup | Reprodução/Instagram

Eu sei que a vitrine de lá (Europa) pode estar sendo maior no momento. Mas a qualquer momento eu posso estar do lado de lá ou a qualquer momento eles podem olhar pra liga daqui que está crescendo. A MLS está sendo uma vitrine, uma ponte para que eu possa estar muito preparado para chegar ao futebol europeu. Acho que daqui a um ou dois anos eu estarei na Europa, sendo esse Talles que vocês imaginam, sendo esse Talles que vocês sempre acharam que eu seria.”

Alexandre Pato: Confiança

Com um currículo extenso, que conta com passagens pelo futebol europeu e asiático, Alexandre Pato, de 32 anos, decidiu acrescentar nesta lista também a passagem pelo futebol dos Estados Unidos. Atacante do Orlando City desde o ano passado, ele se mostra esperançoso com o crescimento da liga e rebate comentários de que o nível é muito abaixo do que temos aqui no Campeonato Brasileiro.

Pato marcou o primeiro gol dele pela MLS neste ano, após ter se afastado dos gramados no ano passado, por conta de lesão | Reprodução/Instagram
Pato marcou o primeiro gol dele pela MLS neste ano, após ter se afastado dos gramados no ano passado, por conta de lesão | Reprodução/Instagram

A liga tem a crescer muito, mas eu tenho certeza que nenhum dos grandes times daqui não passariam vergonha no Brasil, eles jogariam de igual pra igual. Tem times que são muito fortes aqui que podem bater de frente com grandes times do Brasil. Claro que todo mundo olha o Campronato Brasileiro com outros olhos, mas nós que estamos aqui sentimos que está crescendo cada vez mais o nível de técnica, de raça, de vontade."

Luis Cuenca avalia que “fora de campo eles dão um banho na gente, na questão de scouts nosso futebol está bem atrasado”, mas afasta qualquer possibilidade de equiparar o nível dentro de campo ao futebol nacional: “É impensável falar que a MLS bate de frente com o futebol brasileiro, com muito esforço dá pra dizer que bate de frente com o futebol mexicano e alguns momentos.”

Vinicius Mello: Aposta

Apesar de ser "cria" da base do Internacional, o atacante Vinicius Mello, de 19 anos, deixou o clube rumo ao Charlotte FC. Essa movimentação de jogadores no futebol é normal e faz parte do mundo da bola. No entanto, não é tão comum ver jogadores deixando "tudo" para apostar em clube que — ainda — não era "nada". O Charlotte FC estreou na MLS no último sábado (26), o clube é novato na competição, uma promessa ainda sobre qual rendimento terá na competição.

Vinicius Mello deixou o Brasil e foi para o Charlotte FC, clube que ainda iria estrear na MLS | Reprodução/Instagram
Vinicius Mello deixou o Brasil e foi para o Charlotte FC, clube que ainda iria estrear na MLS | Reprodução/Instagram

A decisão de ter deixado o Internacional e ter vindo pro Charlotte foi muito difícil, pois o Internacional era o clube onde eu estava desde os meus 9 anos, o clube do meu coração, e deixar minha família, meus amigos, a minha cultura de lado pra vir pros Estados Unidos que é uma cultura totalmente diferente, uma língua diferente, é algo muito difícil. Com certeza o salário e a qualidade de vida pesam muito na decisão."

Em entrevista exclusiva à nossa reportagem, Ricardo Moreira, Diretor de Futebol do Orlando City, foi de embate à ideia criada no senso comum de que os jogadores escolhem a MLS apenas por conta da qualidade de vida. "Acho que a questão de qualidade de vida, de segurança, são excelentes, mas têm que ser secundárias. Se o Orlando City não me desse a plataforma que eu quero para tentar ser campeão e desenvolver um trabalho, eu não estaria aqui."

Ela vai decepcionar?

Ao conversar com pessoas relacionadas à MLS é possível perceber, de forma geral, uma expectativa em torno do crescimento da competição, apesar de ainda existir um senso comum depreciativo direcionado à liga. “Muita gente olha pra MLS como uma sub-liga, mas aceita que um jogador em alta aqui no Brasil vá jogar no Oriente Médio, na China, na Rússia, muito por ter o preconceito com a MLS”, afirma Cuenca.

Agora, resta saber se todo esse otimismo criado em cima da MLS irá, de fato, atender ao esperado. A Copa do Mundo de 2026, inclusive, será sediada no país norte-americano e pode atrair visibilidade para a estrutura dos clubes, estádios e nível técnico do futebol estadunidense. No gráfico apresentado no início da reportagem, é possível observar que ele não revela um crescimento contínuo, há a existência de quedas no número de brasileiros na liga. Assim, é fundamental seguir observando o fenômeno de crescimento que vem sendo observado desde 2017.

 Bandeira com escudo da MLS | Getty Images
Bandeira com escudo da MLS | Getty Images

De todo modo, mesmo com todas as críticas e dúvidas impostas à Major League, não dá para fechar os olhos para o que vem acontecendo nos últimos anos com jogadores brasileiros. A forma como a competição tem atraído nossos talentos é digna de atenção e acompanhamento. “Tem uma declaração recente do José Mourinho dizendo que ‘se você ainda não está olhando para os jogadores da MLS, você está cego no futebol', porque estrutura de centro de treinamento e de estádio, aqui a gente tem as melhores do mundo”, comentou Ricardo Moreira. Assim como Pelé deu uma chance ao futebol dos Estados Unidos lá em 1975, agora, cerca de 47 anos depois, talvez seja a nossa vez de dar essa chance também.

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