Por Mauro Beting
Ela parou de treinar aos 6 anos. A mãe não tinha como manter as contas em dia com Rebeca indo todos os dias treinar ginástica olímpica desde os 4 anos.
Mas se deu um jeito. Ela ia de ônibus quando dava ao projeto social de inclusão do Ginásio Bonifácio Cardoso, em Guarulhos. Quando não ia mesmo a pé por duas horas. Quando os professores não faziam rodízio para a levar para não deixar aquele talento puro ser vencido por todas as dificuldades.
Até o irmão de 15 anos arrumar uma bicicleta na sucata e a levar e pegar nos treinos. Perdendo o almoço dele por falta de tempo.
Rebeca antes de treinar já era sapeca e serelepe. Ficou ainda mais. Graças à tia, funcionária pública que foi parar no ginásio para cobrir folga, ela viu uma oportunidade para a sobrinha.
E desde então toda essa família que deu desde sempre flick flick duplo carpado para se virar para a menina de 1m54, agora também é prata. Se virando juntado trapos e trocos numa sinfonia como se fossem mundos incompatíveis como Bach e MC João. Um Baile de Favela em Tóquio.
Quando Rebeca começou ela era a Daianinha de Guarulhos. Agora ela é a Rebeca de todo mundo. Superando três operações no joelho, duas neste longo ciclo olímpico, pra ganhar a primeira prata da modalidade para o Brasil aos 22 anos.
São 18 desde que entrou no primeiro ginásio. Mais do que uma vida. E quantas vidas agora ela não vai inspirar. Como quantos outros potenciais esportivos se perderam por falta desse empenho. Dessa família. Desses professores. E de um espaço público para desenvolver pessoas e campeões.