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“O futebol é meio, não fim” – precisamos ouvir mais Roger Machado

Treinador do Bahia comentou protestos que acontecem nos EUA e como Brasil ainda ignora o racismo

Roger Machado: “Temos nosso George todo dia, toda semana”
Roger Machado: “Temos nosso George todo dia, toda semana” - Felipe Oliveira / EC Bahia

Por Taynah Espinoza

Roger Machado é uma voz firme do futebol brasileiro. Um treinador que tem muito a agregar sobre o mundo da bola, que gosta de discutir conceitos, que não se prende numa única ideia. E a forma que ele se apresenta no futebol é a forma como ele enxerga a vida também. Como ele diz, “o futebol é meio, não fim”. Mas meio de quê?

“Meio de alegria em forma de conquista, Meio de mobilização social, Meio cultural, Meio pra engajamento, por que não político, pela visibilidade que pode alcançar”, respondeu o treinador no papo que tivemos hoje no Fora de Jogo. Entre tantos assuntos, o racismo foi pauta. Ano passado, Roger falou com muita propriedade quando ele e Marcão, os únicos técnicos negros na Série A naquele momento, se enfrentaram no Maracanã. O discurso foi contundente. Hoje, não foi diferente.

“A gente precisa dialogar. Algumas pessoas, quando se fala no racismo, argumentam que não se deve falar porque isso gera mais ondas de racismo. Não, não é. É não conhecer, não ter conhecimento, não ter discernimento sobre o assunto que justamente gera essas manifestações”, disse o treinador, que emendou: “Há pouco me mandaram um vídeo de alguém dizendo que sempre haverá racismo e o branco sempre vai se sentir receoso do negro porque é ele que mais assalta. Racismo sempre vai existir. Isso não é racismo, é ignorância. Em alguns momentos, o que desejam é que o negro se convença que ele é mais violento e morre mais por isso. Que ele tem tendência criminosa porque ele que tá mais na cadeia. E que ele não trabalha em cargos de gestão, não alcança o topo da pirâmide porque ele é menos inteligente. Não. Esse é o efeito do processo, não é a causa. Isso pra mim é ignorância”.

Até agora, Roger não teve coragem de ver a imagem do sufocamento de George Floyd, um americano negro que foi morto por um policial branco no último dia 25, em Minneapolis, EUA. A foto do policial com o joelho em cima do pescoço de Floyd já causa desconforto no treinador. “Muito triste, sobretudo porque tem agravante que a violência letal, brutal, foi cometida por aquele que deveria zelar pela vida, que é o Estado. Impacta muito mais do que só a imagem”, afirmou o técnico. E lembrou: “Temos nosso George todo dia, toda semana”.

Os protestos pela morte de George Floyd chegaram ao 10º dia nos EUA hoje. Na última terça-feira, muitas pessoas aderiram, aqui no Brasil, ao movimento BlackOutTuesday, que tinha o objetivo de parar tudo, de silenciar pra ouvir as vozes negras. O que aconteceu foi uma enxurrada de quadrados pretos postados nas redes sociais com a hashtag #BlackOutTuesday. Roger entende que todo tipo de manifestação, de apoio, é positivo. Mas ressalta: “O que o negro carece é de visibilidade. O que os séculos de escravidão e a inércia do Estado com relação a políticas adequadas promoveu é a invisibilidade desse povo”.

Engajado nas causas que o próprio Bahia promove, Roger parece ser um eterno convite a reflexão. A história de “somos todos iguais” não convence o treinador, que pergunta: “se somos todos iguais, nós temos que ser iguais a quem? A quem eu preciso ser igual pra ser aceito? A qual cultura eu preciso pertencer pra ser aceito?”

Se você está aí pensando, refletindo sobre tudo que leu até aqui, eu quero encerrar esse texto com uma dica do Roger pro nosso país: “Pra mim, o Brasil precisa ir pro Divã fazer terapia. O Brasil precisa entender que ele não vai trocar tiro com o terapeuta, ele vai conversar”,

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