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O nosso lindo estádio de espírito

O seu, o meu, o nosso Pacaembu

 - Miguel Schincariol (2020 Getty Images)
- Miguel Schincariol (2020 Getty Images)

Por Mauro Beting

Tenho saudade, não sou saudosista. E a nostalgia do meu, do seu, do nosso Pacaembu, minha primeira casa no futebol, mais ainda.

O Corinthians que tanto jogou lá tem a Neo Química Arena desde 2014. O Palmeiras, o Allianz Parque, no mesmo ano. O São Paulo desde 1960 tem o Morumbi, e pensou ter o próprio Paulo Machado de Carvalho logo depois da inauguração, em 27 de abril de 1940.

O Pacaembu desde 2014 começou a ser menos nosso. Também por isso foi privatizado para o viabilizar e para evitar que o “Viva Pacaembu” assassinasse o estádio construído junto com o bairro. E por isso o tobogã começou a ser derrubado esta semana. A arquibancada construída pelo prefeito Paulo Maluf em 1970 no lugar da charmosa Concha Acústica que, então, foi mais criticada pela queda do que a derrubada de agora.

Eu cresci com o tobogã já erguido. Minha primeira vez do Palmeiras no mais lindo estádio de espírito do Brasil foi lá, em 1973. Eu vi muito jogo e até show no tobogã. Eu vi muito show de torcida no tobogã. Eu me vi muito no tobogã. Vi muitos no tobogã. Muitos que só podiam ir ao tobogã. Muitos que talvez não consigam frequentar o novo prédio que será construído lá. Elitismo. Força do dinheiro. Privatismo. Eugenia. Gentrificação. Vai ter tudo isso por lá. Também mais conforto. Lazer. Prazer. Uso. Comércio. Negócio. Diversidade. Mais gente diferente.

É diferente. Não necessariamente evolução. Modernidade. Necessidade.

O tobogã vai sumir como sumiu a concha acústica. Em 1970 era para caber mais gente. Em 2021 é para viabilizar o negócio não necessariamente para mais gente. Até pelo patrimônio não ser mais público, mas pago para ser mais privado. Até privativo. Provável que proibitivo para muitos.

É o mundo em que sobrevivemos. É o mundo que ajuda a manter em pé e funcionando o estádio de todos nós. A casa que muda para ser a mesma (ou quase igual). Como o lar do meu clube que já teve três nomes, e que está na rua que já teve dois, e que já mudou de estrutura em 1933, em 1964, e de vez em 2014.

É a vida. Ela precisa de ajustes, reparos, mudanças, perdas e ganhos.

Tenho saudade dos dias de Pacaembu. Mas o que puder ser feito para que meus netos o conheçam, estou dentro. Como estive em cada centímetro quadrado daquela arquibancada mesmo não estando. Talvez mais na memória afetiva ou apenas afetada.

O tobogã é um pedaço de concreto amado dessa nossa linda história de amor. É só um pedaço desse mundo. Para que a nossa vida não seja derrubada de vez, que se perca o que jamais será perdido.

Como um domingo à tarde no Pacaembu.

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