Renato Gaúcho, o poeta
Renato Gaúcho consegue atrapalhar o trabalho de excelência em campo com entrevistas populistas, egocêntricas e, por vezes, desconectadas da realidade
Por Bruno Formiga
O trabalho de Renato Gaúcho no Grêmio é absurdamente bom. Ponto. No geral, tem muito mais acertos do que erros. E dá resultado. Trouxe títulos, competitividade e constância ao clube. Seu time, em média, agrada. E é legal de ver. Tudo, porém, inversamente proporcional às entrevistas.
Renato faz questão de jogar com o microfone. Usa as coletivas para marcar território com frases de efeito. Sustenta um personagem. Mas muitas vezes populista.
E em tempo. Ser autêntico não necessariamente é estar certo.
Você pode ser sincero e falar barbaridades.
Depois de perder o GreNal por 2x1, Renato deu um show particular ao falar que o campeonato foi manchado, que existe um complô para o Internacional ser campeão e que estão evitando que o Grêmio vença a competição.
Quem são essas pessoas?
Qual seria o interesse em fazer do Inter campeão?
A CBF, que organiza o Brasileirão, não é a mesma que organiza a Copa do Brasil (que o Grêmio é finalista)?
É comum Renato atribuir suas derrotas a terceiros. Dificilmente o adversário tem mérito. Ou jogaram fechados. Ou a arbitragem prejudicou. Ou isso ou aquilo.
Autocrítica? Algo raro. Raríssimo.
Confiança que se confunde com arrogância de vez em quando.
O Grêmio não jogou melhor que o Internacional. Teve lampejos de qualidade (quando fez 1x0). No geral, sofreu mais, tomou mais sustos e jogou pior.
E, sim. Foi pênalti!
O grande ponto de Renato, pra mim, parece óbvio. Kannemann deu mole. Fez um gesto de bloqueio, calculou mal (acho que queria colocar o ombro) e tocou com a mão na bola que ia em direção ao gol. O árbitro marcou na hora! Em campo. Não foi o VAR.
O VAR, por sinal, não decide nada. Toda decisão cabe ao árbitro de campo. Renato conhece e sabe do protocolo, mas joga essa pra galera tentando parecer prejudicado pela tecnologia.
Joga também quando fala que seu time compete mesmo sem investir como os outros.
Não é verdade.
O Grêmio fez várias contratações que não deram certo (e foram caras) e muitas que funcionaram. Mesmo sem pagar por algumas, precisa arcar com salários que não são baixos. O clube, por sinal, tem uma das cinco folhas mais caras do Brasil. E Renato é o segundo técnico mais bem pago da Série A.
Logo, o papo de falta de dinheiro ou dinheiro pouco não cola muito.
Resumindo. Renato Gaúcho atrapalha Renato Gaúcho.
Falo por mim. Tenho enorme dificuldade em separar o trabalho do campo do personagem que se perde nas falas impactantes. Não é justo, eu sei. Faço um esforço danado para isolar a excelente passagem de Renato no banco de reservas das vezes em que ele senta em frente a um microfone ligado.
Acho Renato um poeta. Assim como Romário acha o Pelé.