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Se Liga que pode ser coisa boa

Viva a Liga! Mesmo.

Por Mauro Beting

“O que a gente fez agora (a Liga) já deveria ter feito há muito tempo”. Palavra de um dos líderes do movimento que tenta organizar a Liga para cuidar do futebol brasileiro da Série A e da Série B. “Pode começar daqui um mês. Ou um ano. Mas a Liga vai sair do papel. Do jeito que a gente estava planejando há alguns meses”.

O discurso foi bem ensaiado entre os cartolas. “É uma provocação para a CBF. Cansamos de conversar com eles nos últimos anos e eles foram empurrando com a barriga nossos pleitos. Agora chega”, disse outro presidente.

Poucas vezes se viu tamanha uniformidade no papo entre cartolas dos clubes. O tempo e a prática dirão se não é só papo.

“Vamos profissionalizar o futebol e a gestão do Brasileirão. A CBF cuida da Seleção. Nós vamos cuidar dos nossos interesses. A Série B já estava unida em tornos dos clubes. Nós há um bom tempo estávamos ensaiando essa ação. Agora era o timing ideal”.

Eu acredito em Papai Noel. Que é uma coisa maravilhosa. Eu não acredito em cartola. E não preciso completar a frase. Mas é dever completar o raciocínio. A Liga Parte 171 do futebol brasileiro pode dar samba. Pode dar jogo. Pode dar liga. Pode dar mais dinheiro, credibilidade, parceiros, futebol, esporte, negócios, transparência, competência.

Mais frutos e menos furtos.

Diferentemente da criação do Clube dos 13 em 1987, desta vez não há uma ruptura formal entre os clubes e a CBF (e nem mesmo alguns poucos que representam milhões mandando nos outros que não são tantos, como foi na cizânia de então). A entidade nacional agora tem dinheiro. Muito dinheiro. O que não tinha quando se formou a Copa União de 1987 e a cisão dos clubes (agora mais unidos, ou menos desunidos).

Agora não tem mais uma liderança consolidada na CBF. Momento oportuno e oportunista para os clubes da Série A e da série B enfim peitarem a confederação e as 27 federações estaduais que mandam mais do que deveriam. Apitam mais do que podem. Desde 2017 com a mudança no peso dos votos. E mesmo antes. Com a anuência dos clubes. Ou com eles tirando da reta e da rota certa.

Não queremos causar uma ruptura com a CBF e com as federações. Nosso movimento é pra melhorar o futebol. Queremos atendidos os interesses dos clubes”.

É um movimento e um momento diferentes também do ambiente e das motivações da Copa João Havelange de 2000. Quando só o C13 poderia organizar uma competição que a Justiça impedia que a CBF fizesse.

Há motivos para que sejamos mais otimistas, sem deixar de sermos realistas, em um futuro próximo do futebol brasileiro. Até por serem outras pessoas - embora ainda os torcedores sejam os mesmos. Até por hoje existir uma série de profissionais mais preparados e blindados no mercado para fazerem o que deveria ter sido feito desde 1987 - pra não dizer antes - na profissionalização real do futebol brasileiro. Mais brasileiro do que futebol. E muitas vezes mais remunerado apenas do que verdadeiramente profissional.

Claro que as birras burras clubistas e bairristas ainda vão prejudicar o negócio. Pênaltis não marcados nos jogos poderão inviabilizar acordos comerciais e administrativos. Egos inflados poderão murchar práticas salutares. Mas pelas necessidades pra ontem do futebol como negócio e também como futebol, as chances de a liga conseguir agora muito mais do que a CBF tem entregado são grandes.

Não será um show de bola, não serão vitórias por goleada. Mas o mundo da bola tende a perder menos boladas. Até por as negociações voltarem a ser mais coletivas, menos individualistas. Os ganhos serão maiores. Multiplicados. E serão divididos de um modo melhor. As perdas, menores. O poder de barganha será maior, o profissionalismo deverá entrar em campo, e os novos meios, mídias e modos devem fazer com que o futebol pare de perder dinheiro. Ou arrume novos campos para plantar.

Além de poder toda a atividade ganhar um calendário mais racional. Sem bola rolando em Datas Fifa (ainda que dificilmente atrelado com o europeu...). Com os estaduais racionalizados (para não matarem clubes menores, e nem sangrarem os grandes). Com novos direitos de transmissão e plataformas mais rentáveis e modernas a partir de 2025. Mais democráticas. A partir do zero.

Demorou. Claro. E também não precisava ser mais uma crise institucional e moral para levar a essa virada de mesa consentida. Que os clubes cuidem da Série A e da Série B. Que a CBF meta menos o bico em campo e fora dele. Como acontece nos melhores países.

Que o voto volte a ser unitário para eleger quem de direito, dando mais poder aos clubes que às federações. Que caia de vez a cláusula de barreira para uma candidatura à presidência da CBF (que sejam 13 os proponentes, mas que não sejam – como agora – 8 federações e 5 clubes). Que os clubes possam negociar diretamente seus direitos (mas como um time, não como goleadores fominhas). Que o calendário seja mesmo racionalizado (mas não seja elitista e excludente).

No frigir das bolas, que os clubes sejam mesmo o que são: os donos da bolada toda.

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