De família "vende tudo", Kaio Jorge deixou recusa do São Paulo para trás para fazer sucesso no Santos e rejeitar o Atlético de Madrid
Atacante não entrou nas categorias de base do São Paulo depois de fazer gol de bicicleta em treino porque "não cresceria" e conseguiu a chance no Santos graças a um esforço financeiro familiar muito arriscado
Por Rodrigo Fragoso
O menino Jorge, nascido em Olinda e criado no bairro de Piedade, em Recife, já enxergava no pai Jorge o seu destino, ainda que o potencial fosse bastante diferente. "Ele não foi um grande jogador, mas fazia uns golzinhos, hein", disse rindo o atacante Kaio Jorge quando foi perguntado sobre a trajetória do também atacante Jorge Ramos. Ele passou por Porto-PE, Petrolina, Sport, Gama e Chaves, de Portugal, entre outros clubes. O golaço de Jorge (o Ramos) não aconteceu dentro de campo. Aconteceu no momento em que ele tomou a decisão, junto com a esposa, de vender tudo para realizar o sonho do menino Jorge (o Kaio) de treze anos.
"Eles não tinham muita condição financeira e passar duas semanas em Santos fazendo teste era caro demais. Venderam tudo. Minha mãe, por exemplo, vendeu até perfume, joia. Meu avô também ajudou e um outro amigo do meu pai. A gente precisava comprar minha passagem, a passagem do meu pai e pagar a hospedagem", lembra Kaio Jorge. Não havia nenhuma garantia de que ele passaria e ainda pesava a última resposta de um clube do Estado para o garoto quatro anos antes, quando ele ainda tinha nove anos de idade.
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"Eu tinha feito um teste no São Paulo. Arrebentei no coletivo, fiz seis gols, um deles de bicicleta e eles não me aceitaram porque disseram que eu não ia crescer. Fiquei bem triste, mas tudo deu certo e eu vim parar no Santos depois". Se no Tricolor tudo o que Kaio Jorge fez no treino coletivo não bastou para uma oportunidade, poucos minutos no Santos foram suficientes para que o coração do pai, escondido em uma árvore para poder assistir a primeira oportunidade do garoto no CT, disparasse sem saber o que acontecia com Kaio.
"No primeiro dia de teste eu estava fazendo um bobinho no aquecimento e em cinco minutos pediram para eu sair do treino. Eu não entendi o que eu tinha feito de errado! Fiquei nervoso, achei que estava desperdiçando a oportunidade da minha vida. Aí veio o treinador perguntando se eu queria ficar e morar aqui", relembra o atacante que só pôde contar para o pai depois da atividade que aqueles poucos minutos já cumpriram com o esforço feito pela família para levá-lo ao teste.
DEPOIS DE SE TORNAR JOGADOR SANTISTA NA BASE, KAIO JORGE DISSE "NÃO" AO ATLÉTICO DE MADRID
Cinco minutos foram suficientes para o Santos entender que valia a pena ter Kaio Jorge nas suas categorias de base aos 13 anos. Poucos meses no Peixe foram suficientes para que o Atlético de Madrid concluir que valia a pena investir num garoto de 14 anos. No entanto, os Jorge's concordaram que não era hora de deixar o Brasil. "Meu pai me instruiu a fazer história aqui e eu estava muito feliz por jogar no Santos, então não vi motivo naquele momento para sair", revelou o atacante de 18 anos.
Assim que foi federado pelo clube, Kaio Jorge pôde trazer a mãe para morar em São Paulo e auxiliá-lo, ao lado do pai, a realizar o sonho de se tornar jogador de futebol, assim como Jorge Ramos. "O Santos me ajudou com isso. E enquanto eu treinava na base, eu olhava lá pro fundo do CT Rei Pelé e via os jogadores todos correndo com aquelas camisas brancas. Eu ficava doido e pensava que uma hora a minha vez chegaria". E chegou rápido, aos 16 anos Kaio Jorge já estreava pelo time principal do Santos e começava a se acostumar com a pressão do time de cima.
Hoje o menino de Olinda, jogador de bolinha de gude e bola de futebol do bairro de Piedade na infância, se tornou o Menino da Vila, centroavante da equipe principal do Santos aos 18 anos de idade. Kaio Jorge arrisca de dentro da área, de fora da área, com a camisa do Santos e com a camisa da Seleção, de todas as formas e jeitos possíveis, afinal, qualquer risco que ele assumir para colocar a bola nas redes é pouco arriscado perto do risco que correram seus pais para vê-lo realizar o sonho de arriscar nos gramados do Brasil e do mundo.
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