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Futebol Brasileiro

EXCLUSIVO: Emily Lima, atual técnica da seleção feminina do Equador, abre o jogo sobre os 10 anos de carreira

A ex-comandante da Seleção feminina contou para a TNT Sports seus momentos marcantes nesta primeira década de trajetória e sua luta pela valorização do futebol feminino 

Emily, a primeira técnica da Seleção feminina de futebol, hoje trabalho na seleção do Equador
Emily, a primeira técnica da Seleção feminina de futebol, hoje trabalho na seleção do Equador (Foto: Federação Equatoriana de Futebol - FEF)

Por Ludmilla Florencio e Tayna Fiori

Um acaso. Foi assim que aconteceu a carreira à beira dos gramados de Emily Lima, 40, a primeira treinadora mulher da Seleção feminina de futebol. Com um pouco mais de 10 anos comandando equipes, a atual técnica do Equador contou para a TNT Sports suas vivências na categoria.

Seu contato com o futebol veio dentro de campo, como volante. Os primeiros passos na carreira foram no São Paulo, em 1997, e os últimos na Napoli, em 2009. Jogou muito entre os meninos, cresceu em meio à desestrutura fornecida ao esporte, mas sempre foi uma das porta-vozes e lutou por melhorias.

Após o término da carreira dentro dos gramados, buscou estudar gestão na Espanha para desenvolver projetos para o esporte feminino no Brasil. À Portuguesa, comandada pelo técnico Prisco Palumbo, apresentou uma iniciativa de desenvolver sua área de estudo, que foi aceita. A partir daí, começou o trabalho de auxiliar técnica, o primeiro passo à área de treinadora.

No ano de 2010, realizou cursos voltados aos treinamentos e recebeu sua primeira proposta: comandar a equipe feminina do Juventus da Mooca. Apesar do receio, pela pouca experiência na beira dos gramados, aceitou o desafio que mudaria sua história.

Sempre gostei muito de futebol, sempre gostei muito de assistir. Sempre tive muito contato com meus treinadores, gostava muito de falar de futebol, mas nunca imaginei que seria uma treinadora".

A responsabilidade imensa trouxe medo em primeiro momento. Apesar de ter sido atleta, destacou que a experiência foi importante, mas não fundamental para lidar com o inédito daquele momento.

"Vivi dentro de vestiário, dentro de alojamento, dentro do campo e via muitos problemas internos acontecendo. Então, eu me preocupava, a responsabilidade era muito grande de dirigir um clube", destacou.

O trabalho em conjunto foi fundamental para superar os receios. "Um grupo que não esqueço. Devo muito do que eu conquistei, depois do meu trabalho no Juventus e na Portuguesa, às atletas e às comissões técnicas".

"Não consegui trabalhar"

Em 2016, Emily chegou ao ponto mais alto de uma treinadora e assumiu o comando da seleção brasileira de futebol feminino. Em 13 jogos, conquistou sete vitórias – nos primeiros sete jogos –, um empate e cinco derrotas.

É uma marca que eu acho bacana para abertura de outras treinadoras. Vou citar o exemplo da Fadinha (Rayssa Leal, a skatista que conquistou medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 2020): com certeza vai aumentar o número de meninas querendo fazer skate. E acho que é esse ponto de elas olharem e falarem: 'caramba, uma mulher chegou à Seleção brasileira. Então, por que eu não posso treinar um clube, por que não posso chegar também?' (...). Nós precisavamos de oportunidade. Ela veio com minha contratação e acho que abriu caminhos. E essa é a ideia: abrir caminho para nós mesmas. Nós estamos preparadas, estudando para que as coisas possam acontecer".

Apesar da marca, não conseguiu desenvolver o seu trabalho e fazer o que gostaria, algo que considera difícil de explicar em sua carreira. Já que a demissão veio no dia 22 de setembro de 2017, menos de um ano de seu início.

"Pessoas acharam que era meu fim, mas estava apenas começando. No dia seguinte, eu já estava pensando o que ia fazer. Deixei isso para trás, porque sabia que ia me atrapalhar. Eu visto a camisa, mas já que o clube, a empresa não me quer... eu não fico em cima do problema. Os dez meses foram um empurrão para minha carreira. Eu tenho muitos objetivos pra minha carreira, a Seleção era um alvo, mas não era o fim".

Acredita que se talvez tivesse um coordenador focado no futebol feminino, papeis que Aline Pellegrino e Duda Luizelli exercem hoje na CBF, poderia ter tido um destino oposto.

"É muito diferente trabalhar com quem ama o que faz do que quem faz por fazer. Ter um respaldo de quem entende a modalidade e faz por que gosta é muito diferente (...). Mas acredito que tudo acontece por ter que acontecer. Foi para que eu aprendesse ainda mais sobre o futebol feminino e isso só me fortalece como profissional, como mulher para dar novos passos".

O comando no Equador

Emily Lima
Emily comandando a seleção do Equador. Foto: Leonardo Sguacabia/Photopress/Gazeta Press

A página virada, como garantiu, foi importante para novos voos dentro do esporte. Tinha o objetivo de sair do Brasil após ficar "manchada" por cobrar melhorias na modalidade e mais respeito às atletas.

"Hoje parece que no Brasil as coisas estão mais normais. Hoje não tem mais a Emily chata, a Emily que cobra. Hoje tem atletas que cobram, treinador que fala nas redes sociais cobrando...Coisa que eu fazia antes e era muito criticada".

Comandar a seleção feminina do Equador veio após o pedido de demissão no Santos, em setembro de 2019. Realizou o objetivo de comandar uma das equipes mais referenciadas na modalidade brasileira e partiu para o "maior desafio da carreira até agora".

O futebol feminino e a luta por igualdade

Emily sempre foi uma das maiores defensoras da categoria. E admitiu que teve alguns embates no Brasi por cobrar mais estrutura às atletas, com objetivo de ver o futebol feminino, que tem cerca de 40 anos de proibição e 30 anos de atividade, crescer ainda mais.

Quando se fala de futebol é futebol. Se os homens precisam treinar em um campo bom, por que as mulheres não precisam? Se os homens precisam de uma boa alimentação e bom descanso, por que as mulheres não precisam? Acho que quando a gente começar a olhar com os olhos 'europeu', de investimento e não de gasto, a gente começa a crescer como está crescendo. Falei há um ano que seria uma das grandes ligas do mundo e continuo com essa ideia, porque vejo uma evolução muito grande de organização na Federação Paulista e na CBF após as contratações pontuais onde necessitava, que era na parte de organização. Ter um olhar futuro, um olhar pra frente, não ter um olhar de gasto... Acho que é uma mudança positiva que vem acontecendo.

Foi questionada, e ainda é, sobre a categoria. Muitas vezes, ouviu que o esporte é um gasto e não uma possibilidade de investimento. Mas as mudanças que surgiram nos últimos anos - principalmente após a Copa do Mundo de 2019 - dão esperanças.

"Infelizmente, os homens só acreditam quando veem os números. Então, quem sou para dizer alguma coisa? Mas os números crescentes desde 2019 falam por si só. Mas ainda ouço que futebol feminino é gasto, ainda ouço tudo isso. É difícil, porque a gente sabe como mudar e quem têm mudado isso são as mulheres. As mulheres que foram contratadas pela CBF estão responsáveis por essas mudanças. Aí, os gerentes, os presidentes, os homens que comandam o futebol no Brasil estão tendo que engolir".

Para ela, o futebol feminino não precisa chegar ao nível de dinheiro investido que há no futebol masculino, o que definiu como "negócio".

"A gente precisa ter o nosso nível, nossa realidade para se manter. Temos que viver com as nossas próprias pernas, dentro da nossa realidade. (...). A gente nem tem que buscar isso. A gente tem que buscar evoluir naturalmente para não sair do patamar. Posso falar da década de 90 e de 2000 em que tinha audiência, grandes salários e os clubes caíram. A ideia não é essa. A ideia é você manter, os números vão aumentando naturalmente... Não acho que o futebol masculino vive uma realidade natural. Tem muita gente passando fome, tem muita gente morrendo, sofrendo e um jogador ganhando bilhões por mês. Isso é negócio, não é futebol. Pra mim, o futebol masculino perdeu o amor que tinha, hoje é negócio e dinheiro. A gente ainda tem essa essência por fazer por amor (...). Tem que melhorar? Tem. Mas esquecer esses números absurdos".

"O futuro não depende de mim"

Questionada sobre suas expectativas a respeito dos próximos passos, garantiu que vai fazer de tudo, trabalhar para o futuro possa ser melhor a ela.

Não posso prever nada. Acho que só posso prever o hoje. E o que puder fazer de melhor hoje, eu vou fazer. Mesmo incomodando algumas pessoas, porque amanhã eu não sei se eu estarei aqui, o que pode acontecer... Então, esse é o meu futuro. Sempre buscar o melhor hoje".

Veja na íntegra a declaração da Emily a respeito do futebol feminino no Brasil:

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