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Futebol Brasileiro

EXCLUSIVO: Neurologista explica que data para retorno do futebol é 'achismo' e volta aos treinos exigiria confinamento inédito no esporte

Representante do SAPESP na elaboração do protocolo de segurança da FPF, Dr. Renato Anghinah também criticou medida de prevenção sugerida por diretor da FIFA, advertindo cuspes no chão

Futebol no mundo todo está paralisado por conta da pandemia do novo coronavírus
Futebol no mundo todo está paralisado por conta da pandemia do novo coronavírus - Getty Images (Getty Images)

Por Rodrigo Fragoso

Médicos ao redor do mundo trabalham em busca de respostas. A extensão da pandemia gera inúmeras dúvidas sobre o futuro de todos os setores, inclusive no futebol. Em muitos casos, o impacto financeiro nas instituições gera pressões políticas por uma perspectiva de retorno das atividades em diversas áreas e, mais uma vez, o futebol está inserido nesse contexto. O cenário faz parte da tomada de decisão, por exemplo, da Federação Paulista de Futebol em relação ao retorno do esporte no Estado.

Em busca de respostas e soluções, a FPF montou um comitê com o objetivo de elaborar um protocolo de segurança para o momento em que a bola voltar a rolar. Sob a liderança de Moisés Cohen, presidente da Comissão Médica da FPF, doutores dos clubes das três divisões do Estado se reúnem virtualmente para debater ideias. Em meio a esses profissionais, o Dr. Renato Anghinah, neurologista, é representante do Sindicato de Atletas Profissionais do Estado de São Paulo e além de classificar o trabalho que tem sido realizado como "esplendoroso", ele deixa claro que jamais houve debate sobre qualquer data para retorno do futebol entre os médicos.

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"Estamos discutindo normas que deem segurança quando for decidido, e se for decidido, que vai haver o retorno do futebol. Quando voltar, todo mundo volta jogando? Ou será melhor uma volta gradativa, primeiro com treinamento?", revela o neurologista, que justifica não haver qualquer protocolo pronto: "não existe fórmula mágica, até porque não envolve somente jogadores. Envolve público, comissão técnica, por exemplo pessoas com mais de 60 anos ou alguém do grupo de risco entre os treinadores e outros profissionais de segmentos diferentes. A própria imprensa vai se colocar em risco".

SUGERIR QUALQUER DATA PARA RETORNO DO FUTEBOL "É ACHISMO"

"Quem tiver respostas prontas, algum médico ligado a qualquer Federação falar: 'vai voltar assim' ou 'vai voltar tal dia' está fazendo exercício de futurologia", afirma o Dr. Renato Anghinah. Como ainda não atingimos o pico da curva, sugerir data para retorno no Brasil, de acordo com o médico, não passa de palpite. "Para podermos convergir para algo mais seguro para todos os envolvidos, vamos primeiro depender da evolução da doença, que é nova, então ninguém tem respostas. É preciso observar diariamente", finaliza.

O diretor do comitê médico da FIFA, Dr. Michel D'Hooge, projetou que o futebol não deve voltar a ser disputado até setembro, gerando uma expectativa de retorno, ainda que distante. Segundo o Dr. Renato Anghinah, a perspectiva no Brasil deve ser ainda maior: "É achismo. Existe uma pressão grande dos times em todo o mundo para voltar. E é preciso lembrar que ele está na Europa, que está pelo menos um mês na nossa frente. Se uma pessoa da FIFA faz esse prognóstico, pensando em países de primeiro mundo, projetando algo para quem sabe depois de setembro, pobres de nós, não é mesmo?", diz o médico que lembra a importância da ciência para estabelecer qualquer expectativa em torno do retorno do futebol.

"Pra mim, é achismo. Eu tenho o direito de achar, ele tem o direito de achar, Lula tem o direito de achar e Bolsonaro tem o direito de achar. Mas saber é diferente. Saber que tal remédio funciona, qual data é mais lógica dentro de uma curva de contágio, quão grande será o tempo para flexibilizarmos a aproximação das pessoas. Acho que ele falou sem nenhuma propriedade", conclui o Dr. Renato Anghinah.

CARTÃO AMARELO PARA CUSPARADAS "É BOBAGEM"

A arbitragem distribuir cartões amarelos para aqueles que cuspirem no chão durante o jogo pareceu uma ação interessante para o Dr. Michel D'Hooge, com a intenção de prevenir os jogadores do contágio. Já para o representante do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo nas reuniões de elaboração do protocolo de segurança da FPF, não.

"Se fala muita bobagem. Imagine que você está suando e está dentro da área, um jogador colado no outro, respirando a 10, 20 centímetros um da boca do outro. Cuspir no gramado é o menor dos problemas! A transmissão é por gotícula, ou seja, pegou na mão, passou na boca, passou nos olhos, aconteceu. Se há preocupação com cusparadas no campo, então é preciso obrigar a utilização de máscaras", comenta o neurologista, que complementa: "Não sei cientificamente qual a rapidez de uma grama normal na absorção do cuspe. Talvez depois de cinco minutos ele não esteja mais lá. Em gramado com drenagem, pode ser que em dois minutos não esteja mais lá. Ou seja, só se o jogador cair de boca no cuspe nesse período. Qual a chance dele pegar coronavírus assim? Então medidas inteligentes baseadas em ciência, vamos apoiar. Bobagem? Não".

VOLTA AOS TREINAMENTOS PEDE ESTRUTURA DE CONFINAMENTO INÉDITO DOS PROFISSIONAIS

Muitos clubes já estão planejando uma volta aos treinamentos no início de maio, após o final das férias de 30 dias concedidas a diversos elencos pelo Brasil. Entretanto, um retorno seguro e ideal está longe de ser possível para a grande maioria dos times do país. Aliás, poucos clubes no mundo teriam a capacidade estrutural necessária para uma volta às atividades dentro de um isolamento social praticamente imune a falhas.

"Vamos pensar em um clube que tenha um hotel dentro de sua sede. Aí tudo bem, todo mundo fica concentrado até começar o campeonato. Não saem os jogadores, a comissão técnica, equipe de cozinha, equipe de faxina, ou seja, não sai ninguém. Nesse caso haveria o controle total, em isolamento, para o treinamento. O que circulou, ou não, está dentro daquele grupo e acabou. Ninguém leva nada pra família e nem traz de fora. Mas pense no Brasil: quantos clubes teriam condições de fazer algo desse tipo?", questiona o Dr. Renato Anghinah.

Com a curva de contágio em crescimento no Brasil, é difícil prever uma data para o retorno de qualquer atividade, porém, quando for possível, o treinamento certamente será muito diferente. "Num lugar do gramado você tem dois ou quatro atletas treinando com distanciamento social. Preparador de longe, não existe contato. Imagine então uma data em que haverá um grupo inteiro no vestiário. Certamente não vai voltar desse jeito, vai voltar de maneira paulatina", conclui o neurologista.

EMBORA ESTEJAM FORA DO GRUPO DE RISCO, JOGADORES PODEM GERAR RISCO

O coronavírus é, sem dúvida, preocupante para qualquer pessoa que contraí-lo, sem exceções, como informa o Dr. Renato Anghinah: "É uma doença que pode levar à gravidade e não tem proteção. 'Ah, mas eu sou um atleta, então não há problema', isso não é verdade. Afeta todo mundo. Quem tem comorbidades pode ter consequências piores, mas você pode ser jovem, saudável e o vírus ser trágico da mesma maneira". Ainda que grande parte dos jogadores está fora do grupo de risco, como será explicado, o ir e vir de cada um pode se tornar um risco para quem está ao redor de todos eles.

Treinadores, preparadores físicos, médicos, roupeiros, entre outros atores de uma rotina de treinos e jogos aparecem no grupo de risco pela idade ou por comorbidades e estarão expostos. "Sobre as comorbidades, o maior risco é de coração e, geralmente, quem tem algum tipo de problema já está fora de um elenco profissional. Alguém com diabetes dificilmente vira jogador de futebol. Outro exemplo, aqueles que são portadores de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) tem como causa o tabagismo e, por isso, não devem fazer parte do esporte de alto rendimento. Só por aí nós já falamos de 90% do grupo de risco, por isso grande maioria dos jogadores está fora. A questão é que eles passam muito tempo juntos com outros profissionais e ainda terão o perigo de cada um ir para sua casa".

Outra dúvida muito comum sobre esse retorno envolve o que pode ser feito caso um teste positivo surja dentro do grupo. A tomada de decisão partirá do cenário em que aquele grupo se encontra: "Depende do estágio da flexibilização. Se tenho um jogador que testou positivo treinando de um lado e outro que não testou trabalhando outro lado, exercendo um distanciamento social diário, não há motivo para esse entrar em quarentena. Se um positivou, mas está todo mundo no vestiário, sem o distanciamento, aí é preciso pensar".

ALEMANHA É EXEMPLO DE QUE NÃO SE PODE QUEIMAR ETAPAS

Durante a entrevista exclusiva concedida ao Esporte Interativo, o Dr. Renato Anghinah trouxe o exemplo da flexibilização e reabertura na Alemanha como um alerta para que nada seja feito antes do que pode ser considerado seguro, caso contrário as consequências podem chegar de forma muito rápida e perigosa.

"A Alemanha, que tinha números fantásticos, não tinha hospitais sobrecarregados, cumpriu bem as normas e começou a exercer a retomada das atividades. Mas isso aconteceu muito mais por pressão política e econômica, sendo mais rápida do que a Merkel (chanceler da Alemanha) queria. O que está acontecendo? Aumento de casos. Estavam em 0,7 de contágio por pessoa. Já estão em 1,0 agora e a projeção é aumentar. Atingindo 1,2 de contágio por pessoa, a Alemanha, que era o modelo, esgota até o fim de junho ou julho os seus leitos de UTI. E agora que as pessoas voltaram, então tem uma pressão política pra não fechar de novo, tudo porque fizeram muito rápido", conclui Anghinah.

Observando exemplos como esse, o neurologista entende que é preciso refletir e debater muito como será possível retomar o futebol, objeto de estudo do Comitê formado pela Federação Paulista de Futebol: "Hoje, nesse momento, nem se cogita data pra voltar. O número de pessoas envolvidas, pense nos atletas, reservas, comissão técnica, juízes e jornalistas. Quantas pessoas estarão ali envolvidas? 100, 200? Certamente só de jogadores, comissão técnica, só ali para o jogo, já serão umas 50 pessoas. Em algum lugar hoje você faz uma festa com 50 pessoas?", questiona o médico.

PACIÊNCIA É PALAVRA DE ORDEM NO COMITÊ

"A mesma segurança que tem de dar para o jogo, tem de dar para o treino", explica o Dr. Renato Anghinah, que acredita no trabalho que está sendo realizado pela FPF: "O que é gostoso ver no Comitê é que se fala a língua da paciência, ou seja, se respeita totalmente as normas do que está sendo colocado pelo governo do Estado, ninguém vai fazer nada que vá afrontar os dados científicos, mas cartilha pronta para a volta, não tem".

O Governo de São Paulo decretou quarentena até o dia 10 de maio e no próximo dia 08 deve anunciar se iniciará a flexibilização ou se ampliará o período de isolamento social. A decisão impactará diretamente as atividades do futebol. "Se o governador Dória falar pra não abrir nada, não tem como contornar. Quem decide é o governo. Eu posso ser dono de uma universidade e decretar volta às aulas amanhã, por exemplo, mas se o governo falar que não pode, não pode".

JOGOS COM PORTÕES ABERTOS NÃO ESTÃO EM DISCUSSÃO

Se o trabalho de um departamento de futebol com 50 profissionais deve retornar com distanciamento social, totalmente diferente dos treinamentos coletivos observados antes da pandemia, é difícil imaginar um estádio lotado para acompanhar uma partida de futebol. "Os governos não devem liberar a volta de público", afirma Anghinah.

De acordo com o Dr. Renato Anghinah, a liberação poderia até ser pensada de forma gradual, mas seria impossível controlá-la em um estádio de futebol. Além disso, ele questiona até mesmo a motivação das pessoas na busca por esse entretenimento de risco. "Vamos supôr que haja uma liberação de presença de público com 10% da capacidade e distanciamento social. Você iria? Permitiria que seus filhos fossem? Creio que não. E imagine o trabalho que a polícia teria. Encontrará pessoas que vão querer sentar juntos, outros vão se aproximar em determinados momentos do jogo. Como controlar tudo isso?", questiona o neurologista.

Em suma, não é hora de qualquer torcedor alimentar a expectativa de acompanhar seu time em campo, seja no estádio ou pela televisão. Ainda que médicos por todo o mundo estejam trabalhando na cura, na vacina e nos protocolos de segurança, a batalha acontece dia a dia e não tem data para terminar. "Infelizmente, estamos diante de algo que nunca ninguém viveu. Estamos primeiro tentando entender qual vai ser o momento adequado para o retorno aos treinos e só depois vamos pensar nos jogos. As curvas no Brasil são curvas de crescimento, então precisamos de suporte legal do Comitê de crise da COVID-19 dentro do governo do Estado, dentro do que a OMS propõe, para que tudo siga de acordo com o que a medicina impõe e, nesse momento, nenhuma orientação médica prevê data para retorno".

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