Lucas Lima 'no bolso', base do Palmeiras e final contra o Grêmio: papo exclusivo com Matheus Sales

"Ali mudei minha vida e mudei a vida da minha família".

"Esse momento mudou minha vida da água pro vinho".

"É uma coisa que vai ficar marcada para o resto da minha vida".

Essas, entre outras frases de mesmo tom, encerravam quase todos os raciocínios de um garoto que deixou o sub-20 para se tornar profissional cinco jogos antes de disputar a final da Copa do Brasil de 2015. A reportagem da TNT Sports ouviu Matheus Sales, 'Cria da Academia' daquela temporada.

‘Desconhecido’ da torcida em 2015, o volante (à época com apenas 20 anos) foi ganhar seu espaço no Palmeiras em outubro. Com lesões no elenco, chegou à grande final da Copa do Brasil como titular da equipe somente cinco jogos depois de sua estreia profissional. O volante conta que sua perna chegou a tremer antes da decisão, mas ressalta que agarrou a oportunidade da melhor maneira possível.

“Não tem como (não tremer a perna)... Ainda mais eu na época sendo garoto, tinha acabado de subir para o profissional. Sensação única, mas sabia que era oportunidade que teria que agarrar, sabia que era uma grande chance tanto para o bem, mas também poderia ser para o mal. Tinha isso em mente, que precisaria fazer meu melhor, graças a Deus deu certo e com título. Não tem jeito, é uma coisa que vai ficar marcada pro resto da minha vida”.

Robinho, Arouca, Gabriel, Amaral, Andrei Girotto e Thiago Santos. A quantidade de volantes contratados na reformulação que o Palmeiras passava por meio do choque de gestão promovido pelo diretor de futebol recém-chegado Alexandre Mattos desanimaria qualquer jogador das categorias de base cujo sonho era brigar por uma posição no novo elenco. Seria muito difícil estrear profissionalmente, quiçá ser titular em uma final de Copa. Seria...

"Pra mim foi uma coisa que não esperava, até porque estava na base, jogando campeonatos sub-20, Paulista, Copa do Brasil, tudo da base... Eu nunca imaginaria, acho que garoto nenhum na base imaginaria isso".

A oportunidade de disputar dois clássicos na final da Copa do Brasil, que ficaria marcada como a primeira decisão da nova casa alviverde, o Allianz Parque, de fato, mudou sua vida “para o bem”, como disse o próprio jogador. Matheus caiu nas graças da torcida, que se deliciava ao brincar que a jovem “Cria da Academia” havia “colocado no bolso” o rival Lucas Lima, um dos principais destaques do Santos que era muito conhecido por suas provocações.

“Na verdade, não foi nem uma marcação individual, foi circunstância do jogo e acabou ocorrendo tudo aquilo. Sabia que o time do Santos era um grande time, viviam uma grande fase e a gente não poderia dar espaço. Mas aquilo foi circunstância do jogo, não foi nada combinado que seria marcação individual no Lucas Lima e graças a Deus deu muito certo. Até hoje, se encontro torcedores do Palmeiras, eles brincam com isso".

CERTEZA DE TÍTULO DO PALMEIRAS E DERROTA 'ANTECIPADA' DO FAVORITO SANTOS COM NILSON

O Santos era colocado como favorito para o confronto da Copa do Brasil. O tom da crônica esportiva no país era de que a equipe de Dorival Júnior praticava o melhor futebol do país e alguns até arriscavam que o Peixe venceria os dois confrontos com facilidade diante de um Palmeiras com muitas lesões e poucas ideias.

"Isso serviu de combustível pra gente, porque entre nós só o que se falava era que a gente seria campeão, que íamos surpreender todo mundo e ganhar o título. Todo mundo falava que o Santos ia ganhar e entre a gente nunca teve essa dúvida que a gente não conseguiria ganhar".

A primeira partida confirmou as expectativas de superioridade, já que o Santos venceu por 1 a 0 exigindo demais do goleiro Fernando Prass, da trave e até desperdiçando um pênalti. No entanto, o último lance do jogo calou a Vila Belmiro. O atacante Nilson perdeu a oportunidade de levar uma vantagem ainda maior para o Allianz Parque em chute para fora, com Fernando Prass fora do lance, na pequena área. A confiança se foi. E as chances de título do Santos pareciam ter ido também.

"Foi mais ou menos esse sentimento... Esses dias eu conversei com o Ricardo Oliveira (que está no Coritiba, onde Matheus Sales hoje joga) e ele falou ‘Matheus, ali eu acho que a gente perdeu. Foi momento que poderia ter matado a final’. Nosso sentimento foi mais ou menos esse, um sentimento geral de que aquele lance mudou tudo".

COMPARAÇÃO COM DANILO E TORCIDA PELA BASE

Duas finais importantíssimas, o mesmo adversário, o mesmo vencedor e outra história se repetindo. Assim como em 2015, o título da Libertadores do Palmeiras em 2020 também teve o seu “Matheus Sales”. Se Matheus tinha 20 anos em 2015, Danilo tinha 19 na final de 2020. Os dois jogadores não eram muito conhecidos pela torcida quando estavam nas categorias de base do clube, mas foram titulares das importantes decisões na mesma temporada em que começaram a atuar profissionalmente.

“Acho que tem um pouco de semelhança porque é a mesma posição e acabou acontecendo parecido com a minha história. Tinha elenco qualificado, daqui a pouco ele sobe, aproveita espaço até se tornar hoje o que se tornou: um grande jogador. É um jogador muito importante do elenco do Palmeiras. E realmente se tornou até uma história parecida com a minha”.

O título de 2015 teve pouco espaço para Crias da Academia no decorrer da campanha, mas nomes como Matheus Sales, Gabriel Jesus, João Pedro, entre outros, marcaram o início de um projeto de alto investimento e estruturação da base palmeirense, abrindo cada vez mais as portas para jovens jogadores, detalhe muito valorizado por Matheus Sales.

“Acho que hoje o Palmeiras colhe frutos do trabalho bem feito que vem acontecendo na base. Hoje a base do Palmeiras ganha títulos e é utilizada no profissional. Ali (2015) pra frente abriram mais portas. Hoje praticamente metade do time, do elenco do Palmeiras é de jogadores da base . Isso é muito bom. Eu torço sempre pelos meninos, garotada que vem da base, porque eu passei por isso. Eu sei a dificuldade que é você ter a oportunidade em clube grande. Torço muito e acredito que tem que dar espaço para a molecada. Hoje fico feliz de ver o Palmeiras dando oportunidade pra garotada”.

E a torcida de Sales é que, mais uma vez, a base palmeirense resolva em campo e o gol do título saia justamente de uma Cria da Academia.

“Torço para que seja um garoto da base, quem sabe o Danilo, que possa fazer um gol e dar um título pro Palmeiras”.

QUEM PRECISA SER “COLOCADO NO BOLSO” NA FINAL CONTRA O GRÊMIO

Para mais uma final do Palmeiras em 2020, desta vez com o Grêmio pela frente, Matheus Sales projeta um jogo muito estudado e pegado na primeira partida, na Arena do Grêmio, mas espera uma partida aberta na grande decisão, no Allianz Parque.

“Se olhar os últimos jogos do Palmeiras, foi um time que estudou um pouco mais, esperando mais, na minha visão. Do outro lado tem o Grêmio também, um time de muita qualidade. Tem um baita treinador, acostumado a ganhar competição de tiro curto, mata-mata, então acho que o jogo vai ser muito estudado, mas na volta vai ser mais aberto”.

Atuando pelo Coritiba, Matheus Sales enfrentou o Grêmio no Campeonato Brasileiro e aponta quem Danilo, Gabriel Menino e os meio-campistas do Palmeiras terão que “colocar no bolso” para levar o caneco da Copa do Brasil de 2020.

“Jean Pyerre, Diego Souza, Alisson que joga aberto.... O time do Grêmio tem muita qualidade, é um time muito rápido. Vão ser dois grandes jogos, com certeza”.